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Brasília,
28 de maio de 2008
Morre
Austregésilo Carrano,
personagem que inspirou a
produção
Bicho de Sete Cabeças
O
autor do livro Canto dos
Malditos, adaptado para
o cinema, era militante do movimento
antimanicomial e representante
do CNS
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Austregésilo Carrano
morreu na tarde de 27 de maio
de 2008, aos 51 anos, em razão
de uma infecção
generalizada, resultado de um
câncer no fígado.
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Nascido em 1957, em Curitiba
(PR), Austregésilo Carrano
foi internado em um hospital
psiquiátrico em 1974,
aos 17 anos, depois de ser flagrado
com maconha no bolso da jaqueta.
Internado por três anos
em várias instituições
psiquiátricas –
sem passar por avaliação
médica –, foi submetido
a eletrochoques, torturas e
injeções diárias
que lhe renderam feridas, inchaços
e infecções; além
da ingestão forçada
e diária de grande quantidade
de medicamentos. Desesperado,
ateou fogo em sua própria
cela, e foi retirado da internação
pelos pais.
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Depois desse período,
passou a sofrer de transtornos
mentais, incapaz de realizar
atividades simples como se vestir.
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Austregésilo Carrano
foi a primeira pessoa no Brasil
a mover uma ação
indenizatória contra
médicos psiquiatras por
erros de diagnóstico,
tratamentos torturantes e crimes,
em 13 de maio de 1998. Era militante
do Movimento da Luta Antimanicomial,
que combate a discriminação
e a exclusão social dos
doentes mentais, prega a extinção
dos manicômios e a adoção
de modelos mais humanos de tratamento
psiquiátrico. Ele foi
representante nacional dos usuários
na reforma psiquiátrica
do Brasil, e membro da Comissão
Intersetorial de Saúde
Mental (CISM), do Conselho Nacional
de Saúde.
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Em julho de 2001, publicou
o livro Canto dos Malditos,
em que relata os horrores por
que passou. O livro, considerado
um precioso documento sobre
os abusos cometidos em hospitais
psiquiátricos brasileiros,
é adotado em várias
universidades e colabora para
a formação de
profissionais de medicina, psicologia,
sociologia e direito. Canto
dos Malditos foi cassado pela
justiça, e por dois anos
e meio não pode ser comercializado.
Os manuscritos serviram de base
para a produção
do filme Bicho de Sete Cabeças,
da cineasta Laís Bodanzsky,
que conquistou 57 prêmios,
oito deles fora do Brasil. O
filme colaborou para a aprovação
da Lei Federal de Reforma Psiquiátrica.
O escritor e militante foi homenageado
em 28 de Maio de 2003 pelo Ministério
da Saúde e pelo presidente
da República Luiz Inácio
Lula da Silva, por sua luta
e empenho na construção
da Rede Nacional de Trabalhos
Substitutivos aos Hospitais
Psiquiátricos no Brasil.
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