Brasília,
19 de abril de 2012
Apoio à produção agrícola tradicional é demanda importante
Dia 19 de abril traz a reflexão sobre a importância da valorização e preservação da cultura dos povos indígenas
O Dia do Índio é celebrado nesta quinta-feira (19) em todo o País. De acordo com o Censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cerca de 80,5% dos municípios brasileiros contam com indígenas autodeclarados. Destes, 315 mil residem nas áreas urbanas e 502 mil nas áreas rurais. No entanto, lideranças apontam que o contato com não-índios ao longo dos anos tem acarretado perda de conhecimentos tradicionais.
“Precisamos de incentivos e apoio à produção. Faltam políticas públicas para a garantia de subsistência dos povos indígenas, por exemplo. A distribuição de cestas básicas é uma das ações que atrapalha a autonomia e acarreta situações de vulnerabilidade social, assim como, a perda de conhecimentos tradicionais e culturais”, aponta Fernando da Silva Souza, representante do Fórum de Presidentes de Conselhos Distritais de Saúde Indígena no Conselho Nacional de Saúde.
Na tentativa de conferir maior empoderamento às populações indígenas e de garantir acesso aos programas de inclusão produtiva, a unidade Recursos Genéticos e Biotecnologia da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) tem desenvolvido ações a partir do uso de sementes tradicionais.
Segundo a agrônoma e pesquisadora da instituição, Terezinha Dias, esse tipo de semente - sem alterações genéticas produzidas - se adapta mais facilmente às condições de clima e solo e não precisa da utilização de fertilizantes. Além da facilidade de cultivo, a pesquisadora aponta que o plantio e o consumo estão ligados à força do povo. "A semente está relacionada a um núcleo de cultura específico. Não se trata apenas de comida, mas sim de um rito. A prática está repleta de valores sociais e culturais", explica Dias.
A coleta e conservação de variedades tradicionais é feita pela Embrapa há mais de 30 anos. No entanto, apenas em 2000 foi iniciado um projeto pioneiro com o povo indígena Krahô voltado para conservação de sementes tradicionais de milho. O trabalho passou a ser desenvolvido de forma mais ampla depois de 2003.
Terezinha Dias conta que a participação da Embrapa em oficinas e fóruns voltados para o etnodesenvolvimento foram fundamentais para ampliação do trabalho. "Foi a partir do convite da então coordenadora da Comissão Intersetorial de Saúde Indígena do CNS, Zilda Arns, que houve maior esforço interinstitucional e envolvimento da Embrapa com essa temática".
Atualmente, a instituição conta com pelo menos 600 tipos de batata-doce e variedades de arroz, milho, mandioca, inhame, entre outros, em sua Câmara de Sementes Tradicionais. Além disso, desenvolve ações como o enriquecimento de quintais com fruteiras e a realização de feiras de trocas tradicionais dentro de áreas indígenas em parceria com a Fundação Nacional do Índio (Funai).
O Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) juntamente com a Funai também desenvolvem projetos voltados para a ampliação da produção de alimentos para autoconsumo. Os órgãos articulam, ainda para o ano de 2012, maior acesso dos povos indígenas às políticas de segurança alimentar como o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e a Política de Garantia de Preços Mínimos para produtos da Sociobiodiversidade (PGMBIO), entre outros. |